terça-feira, 4 de maio de 2010

Ernest Tugendhat e os 4Saberes

As distinções e aproximações que Ernst Tugendhat faz entre arte, religião e filosofia e filosofia e ciência,

A distinção entre saberes.

Para Hegel, três saberes se referem ao absoluto, à arte, a religião e a filosofia, aqui vamos mostrar as diferentes maneiras que esses três saberes se referem ao absoluto, através do texto de Tugendhat.

Segundo o autor o contraste entre religião e filosofia não consiste em que a religião se refira ao divino, o contraste não reside no conteúdo daquilo que é tomado por verdadeiro, e sim, como essa verdade é colocada.

A religião toma determinadas coisas por verdadeiras, porque foram transmitidas por uma tradição ou revelação sagrada intangível, oriunda de uma instancia particular que diz ser assim, e que esse conteúdo não deve ser colocado em dúvida. A religião é um saber que não se apóia em fundamentação e sim em autoridade, onde a dúvida não é permitida, na verdade a duvida é indevida e pecaminosa.

A filosofia diferente da religião questiona, especula, não aceita um saber estabelecido pela autoridade, não aceita um saber que não se apóia em fundamentação, que não se exponha a especulação. O comportamento filosófico não aceita como fundamentação última, a fundamentação oriunda de uma instância particular que diz ser assim, e que esse conteúdo não deve ser colocado em dúvida.

A filosofia se destacou em face da atitude mítico-religiosa que não aceitava a dúvida nem fundamentava seus saberes, porque partiam de uma autoridade divina. Os esclarecimentos, a exigência da fundamentação, foram à causa do rompimento com esta sujeição a autoridade, a proclamação da autonomia intelectual do homem. “A filosofia exige uma explicação coerente, lógica e racional, além disso, a autoridade da explicação não vem da pessoa do filósofo, mas da razão que é a mesma em todos os seres humanos”.

Com a filosofia o saber passa a ser buscado de maneira sistemática, e independente de contextos tecno-práticos particulares, a passagem pela dúvida é explicitamente buscada, o aspecto crítico já pertence ao cotidiano do saber e é reconhecido agora como fundamental para aquisição sistemática do saber.

A semelhança entre filosofia e religião é quanto ao conteúdo, a filosofia esta mais voltada para o que pertencia ao domínio da crença, mas quanto a sua forma está tão orientada para o saber natural como as ciências particulares. Religião e filosofia ambos são modos de tomar por verdadeiro, a diferença é como as coisas são tomadas por verdadeiras, à filosofia exige uma fundamentação, enquanto a religião esta fundamentada na autoridade divina.

Segundo o autor tanto a religião quanto a filosofia tratam do todo e do bem, só que de forma diferente, ambas visam o conhecimento universal, só que a filosofia tenta fundamentar esse conhecimento, a religião não tem essa preocupação, pois esse saber é justificado pela autoridade divina. O esclarecimento filosófico é então o rompimento com está sujeição à autoridade, enquanto a religião impõe esse saber de forma autoritária.

A fronteira com a arte é muito mais clara que com crença, a arte não cria enunciados, não carece de fundamentação. Embora também tenha a ver com questões acerca do bem viver. O artista não fundamenta nada, não porque tenha banido a dúvida, mas porque ele tem a ver com uma matéria que de modo algum incita a dúvida, no sentido teórico desse termo.

Enunciados morais podem ser fundamentados religiosamente e filosoficamente, mas não podem ser fundamentados artisticamente, simplesmente por não está implicado no sentido da linguagem artística.

Segundo o autor alguém pode tanto filosofar quanto escrever, só não pode fazer ao mesmo tempo.

Tanto na arte quanto na crença, ainda que por razões distintas, não há preocupação com a fundamentação, diferente da filosofia que visa fundamentar, esclarecer o saber que julga ter. Filosofia, arte e religião se referem ao todo de alguma forma, seus meios porem são distintos.

A filosofia enquanto saber se aproxima mais da ciência do que da religião e da arte, a filosofia é ela mesma em certo sentido uma ciência, porque busca a verdade, uma verdade fundamentada. Como diz Aristóteles “a filosofia é a ciência mais alta que as demais e isso significa uma ciência que contenha na mais alta medida, as propriedades características da ciência: universalidade e fundamentação”.

A filosofia segundo o autor consiste em grande medida no aclaramento de conceitos, já a ciência tem a ver com fatos e, eventualmente, com regularidades, também estas não passam de fatos, linguisticamente falando a ciência trata de proferir e fundamentar enunciados, na maioria das vezes através de experiências. A filosofia em contrapartida parece que nada tem a ver com enunciados, mas apenas com aclaramentos de conceitos. Outra distinção segundo o autor entre filosofia e ciência e que a filosofia tem como objeto o mundo, o todo e busca um conhecimento universal, já a ciência tem objeto determinado de estudo é um saber particular. Enfim a filosofia entra nos domínios das ciências, e as ciências particulares também adentram por sua vez em contextos que são de relevância filosófica.

A distinção entre filosofia e ciência segundo o autor é que a filosofia trata do todo e a ciência trata de conhecimentos particulares. A distinção entre a filosofia e a ciência está na proximidade da filosofia com a arte e com a religião, assim como a diferença entre filosofia arte e religião está na proximidade da filosofia com a ciência.

A pergunta o que é filosofia? É muito difícil de responder, não existe um conceito pronto e acabado sobre o que é filosofia, o conceito varia quanto a cada filosofo ou corrente filosófica, mas também em relação a cada período histórico.

Na minha humilde opinião, filosofia é uma ciência artisticamente religiosa, trata de tudo e do todo de forma argumentativa, pondo em duvida todos os conceitos que regem nossas vidas, tentando fundamentar de forma racional conhecimentos sobre a vida sobre o mundo. A filosofia tenta explicar conceitos que sabemos de antemão, só que não conseguimos expor de foram racional, coerente. A filosofia é a ciência do saber racional, é também a arte de saber viver, e a religião que busca o bem e a virtude. Filosofia é isso tudo sem ser religião arte ou ciência é só filosofia.

A respeito da pergunta o que é o conceito de escola segundo a terminologia kantiana, o texto nos diz que é o sistema dos conhecimentos racionais a partir de conceitos. Caracteriza o lado metódico da filosofia que está voltada para a fundamentação. O conceito de mundo segundo Kant é a ciência dos fins últimos da razão humana, e o que ele considera como fim último pode ser entendido como a felicidade e a moral, o bem. A filosofia tem como finalidade o sentido da vida à busca pelo bem viver, pelo saber viver de forma correta, a arte de viver bem.

segunda-feira, 22 de março de 2010

O Dialogar Filosófico

O Dialogar Filosófico
Uma boa palavra para definir a Filosofia é “diálogo”. Filosofar é, antes de tudo, dialogar, pois pensamentos interessantes não se constroem a partir de uma mente só, já que, como seres humanos, somos limitados no espaço e no tempo. Todo homem só é capaz de construir teorias que contemplem sua própria visão de mundo. No entanto, mesmo esta não é genuinamente sua pois, em todos os casos, se forma por intermédio de muitas pessoas. Por vezes, idéias geniais, brilhantes, são atribuídas exclusivamente a seu autor, mas todos se esquecem que elas o são justamente por resistirem, quase intactas, ao escrutínio do livre questionamento e do inescrupuloso tempo.
É evidente que grandes pensamentos não “brotam do nada”: são elaborados ao longo de uma vida, ou de várias, e através de muitos remendos e reformulações. E o que é a elaboração de um pensamento senão sua construção verbal, de forma que possa ser transmitido a outros, seja através de textos escritos ou oralmente? Se pensarmos bem, para qualquer pessoa, o momento de expor suas idéias ao mundo é o resultado de um grande processo de elaboração mental, para o qual já contribuíram inúmeras outras pessoas.
Com isso, pode-se afirmar que, apesar do que dizem as aparências, Filosofia nunca se faz sozinho. A idéia pode ser sua, você pode tê-la escrito inteiramente, mas jamais ela terá surgido por mérito única e exclusivamente seu. Seus pais, amigos, vizinhos, colegas e até completos desconhecidos; a mídia, o governo, a comunidade, a igreja e outras instituições; outros povos e culturas; enfim, todas as pessoas e idéias que fizeram parte da sua vida, direta ou indiretamente, tiveram sua parcela de contribuição para que seu pensamento saísse exatamente como saiu.
Bom, se por um lado não há pensamento de autoria exclusiva de uma única pessoa, também não há pensamento válido sem a interação com o mundo, sem viver no mundo. Filosofia é, pois, fruto da contemplação da realidade humana. Qualquer pensamento que a desconsidere jamais poderá ser considerado filosófico. Será poesia, mito, ou apenas pura fantasia, isso senão for visto como bobagem ou loucura e cair no ostracismo.
No nascimento de um pensamento é possível percebermos outra característica do diálogo: a interiorização do conteúdo, a reflexão sobre o que está sendo pensado. Mas, a Filosofia, diferentemente de em um diálogo comum, não se satisfaz com uma mera
opinião ou com o consenso entre os participantes. O diálogo dito filosófico é verdadeiro, onde os envolvidos estão realmente interessados em esgotar todas as possibilidades do próprio diálogo e da razão, pois dialogar verdadeiramente significa mais do que ser sincero, significa estar disposto a ir até as últimas consequências da crítica e da argumentação. Não apenas as idéias apresentadas devem ser coerentes e bem fundamentadas: estarão em debate também os seus próprios pressupostos e fundamentos sobre os quais ela se apóia, numa tentativa de dar coerência ao todo.
E, nessa busca pela unificação do pensamento, este volta-se sobre si mesmo e, de repente, o assunto torna-se o pensar. O diálogo filosófico é, pois, reflexivo, ou seja, na discussão sobre a realidade, o filósofo volta-se sobre o real. Sobre aquilo que existe, o filósofo ocupa-se do existir, da existência. Na busca por saber o que as coisas são, ocupa-se do “são” e vai atrás do “ser” das coisas. Do conhecimento, busca o conhecer, seus limites e possibilidades; e assim por diante.
Por fim, o diálogo filosófico está permanentemente aberto a todos os interessados. Ou seja, o resultado de todo esforço dialógico, para que possa ser considerado filosófico, deve ser submetido à crítica, à análise inter paris, e deverá e vencê-la mediante uma boa argumentação. Esse é o preço da liberdade: o respeito para com a liberdade do outro. Aqui, não adianta gritar para ser ouvido, pois quem escuta é a razão. É, pois, condição sine qua non para o verdadeiro diálogo filosófico saber justificar posições, se se espera que mais alguém concorde com o que está sendo dito. De outra forma, haveria apenas um monólogo: eu falo e você escuta. No diálogo verdadeiro, em especial naquele em que se pretende entender melhor o mundo e produzir conhecimento, é preciso que a via seja de mão dupla. E isso implica saber criticar e ser criticado.
Portanto, se você espera ser ouvido, ou seja, se espera um dia ser levado a sério, é bom que aprenda, o quanto antes, a criticar e a receber críticas da melhor forma possível, tendo a plena consciência que nas pontas de cada diálogo, intermediando e analisando pensamentos, encontram-se seres que, por sua condição humana, não nasceram vendo a crítica como algo construtivo e indispensável, como crítica ao pensamento e não ao pensador. Nesse ponto, o verdadeiro filósofo deve, sim, ter tato ao dizer o que pensa, mas principalmente, deve conseguir distinguir-se de seu próprio pensamento sem perder sua identidade. Só assim ele será capaz de atingir distância suficiente de sua obra para que possa ver o todo e para aceitar as críticas. Só assim, também, ao analisar as críticas recebidas, conseguirá separar as pertinentes das inócuas, já que é naquelas que
está o potencial para o progresso, para que possa dar prosseguimento a suas pesquisas e a aperfeiçoar sua idéia inicial.
Aqueles que já tiveram de enfrentar a crítica sabem, de alguma forma, que são de grande valia qualidades como a humildade, a paciência, e a perseverança (e, é claro, um profundo conhecimento sobre o tema em questão), e quão terríveis são as consequências da precipitação, do preconceito e do egocentrismo. O pior momento talvez seja aquele em que o pensamento é exposto ao erro. É o momento a partir do qual a idéia, em parte ou totalmente derrubada, deverá ser reavaliada e, se possível, reconstruída, senão, abandonada. Esse é um dos momentos mais difíceis de manter-se à distância da idéia, pois uma falha encontrada nesta implica necessariamente uma falha naquele que a criou. Mas, não é esse um dos maiores desafios verdadeiramente humanos: o de conseguir ver e aceitar as próprias falhas? Sem isso, não se produz conhecimento, e não se permite ao homem superar-se a si mesmo.
Dizer que filosofar é dialogar é, portanto, dizer que é necessário o outro; que é necessário estar no mundo e trocar experiências, que é necessário desenvolver, voluntária e conscientemente, a capacidade de se auto-aperfeiçoar. Dizer que filosofar é dialogar é compreender que a Filosofia não foi criada pela mão e pela vontade de um: ela é, hoje, como em cada momento de sua existência, o estado atual de um processo de árdua elaboração em constante desenvolvimento, que perpassa vidas e vidas, séculos e séculos. É processo jamais concluso e sempre renovado, que perdurará enquanto houver inquietação na alma humana.
Em suma, sem diálogo verdadeiro, sem Filosofia, o homem jamais será de fato livre, pois ser livre é poder expressar-se dentro do limite da liberdade do outro. Sem diálogo verdadeiro, o homem jamais entenderá sua própria humanidade, pois ser humano é superar-se continuamente. Sem Filosofia, o ser humano jamais conhecerá o mundo ou a si mesmo: ele estará condenado a permanecer confinado no mundo por ele criado para quem que ele acha que é.

sábado, 27 de fevereiro de 2010




Boas Vindas




A vocês que chegam, bem vindas e bem vindos. As razões que motivaram a escolha do Curso de Filosofia dizem muito sobre a concepção que têm sobre si próprios, o que querem do mundo e da vida, o que querem representar. Nosso curso existe há pouco mais de dez anos, o que o torna recente, ainda precisando de direcionamento e de afirmações de identidade, muito embora hoje estejamos muito mais adiantados do que na mesma época do ano passado. Estamos felizes em contar com vocês agora.




Estruturalmente, o curso dispõe de um espaço limitado na Área III do Centro de Humanidades, mas ainda assim consegue ter uma biblioteca e sala de leitura e informática próprias, uma das mais organizadas e eficientes secretarias que podemos conhecer na UFC, um PET participativo e constantemente em processo de criação, um programa de bolsas invejavelmente notável, tanto no sentido quantitativo, como no qualitativo, um programa de pós-graduação que todos os anos forma novos mestres em Filosofia. Sim, nós temos que nos orgulhar do nosso curso, das pessoas que trabalham para isso, e de todo o esforço de construção que vem sendo mantido desde sua fundação até hoje.




Devemos nos orgulhar também da Filosofia.




A Filosofia que aparece como farol-guia e como método para as pessoas que desejam, por razões tais que fogem ao tangível ou mesmo ao concebível, desejam conhecer, entender, saber das razões do mundo, ou das coisas, ou do humano. Saber se há verdade, ou não há. Saber o que ela é, se existir. Saber do próprio saber. Ou dos meios como possuímos para nos expressar sobre o Saber. Saber das razões da mente, ou das “sem-razões do amor”. Saber quem somos. Quem somos?




Bem vindos, filósofos ou aspirantes à Filosofia a essa montanha-russa que é esse Saber, sempre em looping, voltando-se sobre si mesma e retornando refletida para as questões que perturbam o espírito humano, porque é humano. Não se assustem, à primeira vista, com a intensidade da Filosofia, ou com a aridez que certos autores, ou com a noção socrática de que, por mais e mais que saibamos, nada, absolutamente nada, sabemos de certo.








Antropologia Filosófica




O saber científico e o saber filosófico




Segundo o velho Aurélio, antropologia é “1. Estudo ou reflexão do que é humano, e do que lhe é característico. 2. Designação comum a diferentes ciências ou disciplinas, cujas finalidades são descrever o ser humano e analisá-lo com base nas características biológicas e socioculturais dos diversos grupos (povos, etnias), dando ênfase às diferentes variações entre eles”*. É o estudo, o discurso, a reflexão (logos) sobre o humano (antropo).




Nesse sentido, a definição que melhor cabe à Antropologia Filosófica é a 1, considerando que a Filosofia não descreve nem o mundo biológico tampouco o mundo sociocultural. Mas o que pensar a respeito, então, quando dissemos que a ocupação dessa disciplina é tão somente filosófica?




Três ramos antropológicos há, todos interessados no que é que faz com que sejamos humanos, descrevendo-o nos aspectos pensáveis. A Antropologia Natural usará dados biológicos, anatômicos e fisiológicos para definir humano – Nesse caso humano pode ser definido como ser mamífero com telencéfalo desenvolvido e polegar opositor, como no documentário A Ilha das Flores. – Ela se respalda em ciências como Paleontologia e Genética.




A Antropologia Cultural trabalha com dados culturais, isto é, tudo o que é produzido pelo homem, o meio cultural em que vive, os costumes e os saberes de seu povo. Um antropólogo cultural poderia definir humano como animal cultural, social e político. Ela é fortemente ligada à Etnologia.




Por fim, e não menos importante, temos a Antropologia Filosófica. Ela não trabalha como dados, mas com reflexões. Não faz descobertas, mas concepções, entendimentos. É o saber que busca uma definição não-biológica, porque considera o humano como algo que transcende o biológico; nem um saber tão-somente cultural, porque acredita que há algo no humano que lhe seja inalienavelmente seu, algo humano de fato, que faz com que todo mamífero como telencéfalo desenvolvido e polegares opositores e que participam de uma construção cultural de mundo, seja humano. A Antropologia Filosófica entende o humano como algo universal, numa categoria da qual os membros da espécie fazem parte.




Essa é a distinção fundamental entre o saber científico (Antropologia Natural e Cultural) e o saber filosófico. O primeiro busca uma definição o mínimo “universalizante” possível, em que todos possam se enquadrar de modo flexível e peculiar, uma definição por particulares, indivíduos, que trabalha com dados empíricos. O segundo saber busca, através puramente de análise reflexiva, num auto-perscrutar incansável e implacável, um Humano universal, e não trabalha com coisas experenciáveis, mensuráveis, mas somente na intelecção e na abstração. No final, ambos se confundem, porque o objetivo é o mesmo: entender o que faz como que o humano seja humano; o que muda, pode-se dizer, é o método.




O saber científico, para concluir, trabalha com certezas provisórias, e isso vale para toda Ciência. O saber filosófico, a rigor, trabalha com certezas universais, que valham em todo tempo e em todo lugar, mesmo que a certeza universal seja a de que não há certeza universal nem verdades absolutas.




Esse é o objetivo (subjetivo) da Antropologia Filosófica. Entender, filosoficamente, o que nos torna humanos. O que é humano.







A Disciplina de Antropologia Filosófica no Curso de Filosofia da Universidade Federal do Ceará.




Ministrada pelo professor Custódio de Almeida entre 18:30 e 20:00 horas nas segundas e quartas-feiras, a disciplina de Antropologia Filosófica é considerada o deleite do primeiro semestre, por ser de uma temática que, se não interessa a todo mundo, pelo menos perturba a todos, e pelas aulas cooperativas, em que o debate, a discussão e as análises reflexivas sempre estão em voga. Esta postagem conclui-se com uma pequena descrição de como vai ser o caminho que o semestre vai tomar.




Num primeiro momento, serão apresentadas as concepções filosóficas de homem, desde a Filosofia Clássica até a Contemporânea, historicamente amealhada. Relatórios deverão ser feitor a partir das discussões nas aulas e nas leituras do texto Antropologia Filosófica, do Pe. Henrique C. de Lima Vaz**. As discussões terão começo na concepção de homem implicitamente presente nas grandes poesias e nos mitos gregos: a efemeridade do homem em relação a imortalidade dos deuses.




Em seguida, com o surgimento paulatino da Filosofia no pensamento grego, as investigações socrática, sofística, platônica e aristotélica acerca do humano serão esquadrinhadas. As concepções helenísticas (epicurista, estóica e neoplatônica) fecharão a época clássica e abrirão o Medievo.




As concepções medievais serão fortemente marcadas pela problemática Razão x Fé. Isso se dá porque a conciliação do pensamento cíclico grego como o pensamento linear judaico-cristão, o “casamento” entre o logos grego com as noções teológicas do cristianismo, será muito difícil. Por isso, toda a Filosofia Medieval, não só as suas concepções antropológicas, será caracterizada pelo empenho de seus pensadores em sintetizar as duas tradições. Esse esforço começará com a Patrística, cujos principais expoentes são Orígenes e Santo Agostinho, e confluirá para a síntese que São Tomás de Aquino empreenderá, com o ressurgimento do aristotelismo.




Inicia-se com René Descartes a Modernidade, e as concepções tentarão cada vez mais se desvencilhar de uma atenção voltada para algo fora do entendimento humano: eis o Subjetivismo marcando a primeira grade reviravolta nos conhecimentos humanos ocidentais. Surge, com o Renascimento, a noção de dignidade humana, o Humanismo. Haverá uma crítica a Descartes pela parte dos filósofos ingleses David Hume e John Locke, e em meio a essa disputa, Immanuel Kant fará a síntese que permitirá à Filosofia prosseguir em seu caminho. As concepções de homem, antes fortemente submetidas à Razão onipotente, dão vislumbres de mudança.




Hegel marcará o fim da Idade Moderna, na Filosofia, e suas concepções, em parte, grande síntese em sistema do que foi pensado em sua era, marcarão os estudos Filosóficos como os entendemos. Os pós-hegelianos trabalharão no sentido de criticar e endossar o filósofo, e pensarão nas mais diversas concepções: Spinoza, Schopenhauer, Nietzsche, Marx, Feuerbach, os críticos da modernidade, na escola de Frankfurt, Walter Benjamim, Marcusek Horcheimer, Adorno, e os filósofos atuais, terão todos uma concepção própria de humano, assim como nós temos. O objetivo dessa análise histórica é nos fazer refletir sobre o que nós pensamos do humano, mediante o que já foi pensado nos dois mil e quinhentos anos de tradição filosófica.




A segunda parte do programa da disciplina tratará das Categorias humanas: as coisas que fazem com que sejamos humanos. Cada traço importante desde o Corporal à Transcendência rumo ao Total, num eternamente frustrada tentativa humana de superar suas delimitações. Mas isso é outra história.




Sejam bem vind@s a doce e trágica e bela dança da filosofia em diálogo com as tradições. Não vos arrependereis, mesmo se não vos tornardes felizes com isso, porque, de um modo ou de outro, a reflexão filosófica ajudará a vos encontrardes. Só basta pensar. Vinde. ^^

Referências

*MiniAurélio Século XXI - Aurélio Buarque de Holanda; Editora Nova Fronteira - R. de Janeiro - 2001

**Antropologia Filosófica - Volume I - Pe. Henrique C. de Lima Vaz; Editora Loyola -

S. Paulo 1991